Um chocante e comovente relato que conta a experiência de uma mulher criada em meio à Yakuza, a temida máfia japonesa.
Escrever este livro foi uma maneira de enfrentar os demônios que me assombraram pela vida toda. Quando finalmente concluí o manuscrito, senti como se um peso tivesse sido tirado dos meus ombros, e pude voltar a sorrir pela primeira vez em muito tempo. Mas, embora tenha guardado o tempo todo na memória as palavras que meu pai me escrevera antes de morrer – “Shoko, por favor, continue a acreditar em si mesma” –, jamais imaginei que o livro faria um sucesso tão estrondoso.
Neste livro, você não vai encontrar nenhum Yakuza “bom”, nenhum glamour associado a essas pessoas. Ao contrário, vai acompanhar a maneira como meu pai mergulhou do seu posto de chefão influente do crime organizado diretamente para a pobreza ao cair doente, e vai conhecer um submundo governado pelas drogas e pela violência. Mas você também verá que se trata do retrato de uma família – muito embora eu tenha precisado passar por algumas duras lições antes de aprender a dar valor aos pais que tive.
“Mas o que exatamente é a Yakuza?”. A explicação mais comum é que se trata do equivalente à Máfia na sociedade japonesa, mas talvez essa definição, na verdade, seja simplista demais. Literalmente, a palavra yakuza significa “enraizado em um território, tomando conta desse território”. E um bom exemplo do respeito a esse significado foi o que constatou por ocasião do terremoto que atingiu Kobe, em 1995: o primeiro grupo a providenciar suprimentos e auxílio às vítimas foi a Yakuza, não o governo japonês, embora, como era de se prever, esse fato não tenha sido anunciado pela mídia.
Contudo, este livro não trata apenas da Yakuza. Ele conta a história da minha vida, passando por temas com os quais qualquer leitor de qualquer nacionalidade poderá se identificar, independentemente do estilo de vida que tenha escolhido para si: bullying, delinquência, drogas, cerceamento de liberdade, amor, violência, casamento, divórcio, dívidas, distúrbios alimentares, tentativas de suicídio, doença e morte. Afinal, por mais felizes e perfeitas que nossas vidas possam parecer aos olhos dos outros, todos nós temos problemas. Acredito que muitos leitores cheguem a esta história sabendo pouca coisa a respeito do mundo da Yakuza, mas eles certamente se iden- tificarão com as provações que enfrentei em minha trajetória de vida.
As diversas fotografias das minhas costas nuas tatuadas que decoraram as capas das edi- ções japonesas e estrangeiras do livro mobilizaram a atenção de muita gente. O estilo de tatuagem fechada que marca meu corpo sempre foi um tabu no Japão por conta das suas associações com a Yakuza. Todavia, ao ler a história, você verá que minha decisão pessoal de fazê-la teve uma conotação positiva, foi algo que me fortaleceu e me ajudou a romper com certos círculos viciosos auto- destrutivos aos quais eu estava presa.
Em 2005, minha filha nasceu. O pai dela nunca teve nenhum envolvimento com a Yakuza, mas nosso relacionamento também enfrentou seus problemas e hoje crio a menina sozi- nha. Minha filha me fez resgatar lembranças da minha própria infância e de como, mesmo quando minha fa- mília atravessou períodos conturbados, sempre houve coisas boas também. Família. Levei um tempo enorme para saber reconhecer isso, mas hoje sei que ela foi o lugar onde sempre me senti mais feliz na vida. E que agora, ao lado da minha filha – a família que construí para mim –, sou mais feliz que nunca.




